Mariluz Gallegos Zumaeta: elegância entre formas e culturas
- Marisa Melo
- há 13 minutos
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Há profissionais que projetam interiores. E há aqueles que criam atmosferas. Mariluz Gallegos Zumaeta pertence a esta segunda linhagem, a dos que, mais do que desenhar espaços, costuram vínculos entre culturas, histórias e sentidos. Formada pela escola Toulouse Lautrec, em Lima, sua trajetória acolhe o design de mobiliário como uma linguagem que ultrapassa modismos e fronteiras, unindo o refinamento europeu à alma ancestral da cultura peruana.
Sua obra já atravessou fronteiras: participou da prestigiada Feira Internacional de Móveis de High Point, nos Estados Unidos, levando consigo uma fusão delicada entre o estilo clássico inglês e as raízes pré-incaicas e incaicas do Peru. Um verdadeiro presente cultural ao universo do mobiliário.
Atualmente, Mariluz promove o luxo italiano no Peru à frente da Spazio e Stile, representante de marcas consagradas como a Cattelan, presente em mais de 160 países e considerada uma das 10 mais celebradas do mundo e a Arredo3, importante marca de cozinhas que alia tecnologia de ponta a uma herança artesanal. Mas sua missão vai muito além da representação comercial: Mariluz contempla seus projetos com um estilo atemporal, seleciona materiais com o olhar de uma ourives e entrega experiências de vida. Viver com estilo, com tecnologia e com alma. Detalhista, intuitiva e absolutamente contemporânea, sem jamais perder a alma artesanal que pulsa em cada criação.
Nesta entrevista, mergulhamos em seu universo. Falamos sobre memória, cultura, design de excelência e o papel da mulher latina num cenário internacional. O resultado é uma conversa reveladora com uma criadora que entende que o verdadeiro luxo é aquele que acolhe, transforma e narra histórias.
Hoje, vamos conhecê-la um pouco mais.
1. Mariluz, você tem uma formação em design de interiores e uma trajetória marcada pela fusão de culturas. Como nasceu esse desejo de mesclar referências anglo-americanas com as raízes pré-incaicas e incaicas do Peru? Que sentimentos você buscava traduzir com essa mistura?
Foi uma experiência gratificante começar tão jovem como designer de mobiliário autoral, eu tinha apenas 21 anos, mas já sentia uma conexão profunda com o desenho de móveis. Sonhava com a criação de protótipos com identidade própria. Imaginava que um dia meus desenhos estariam publicados nos grandes livros ou revistas internacionais de design.
Comecei a estudar iconografia peruana, a mergulhar nas suas histórias, arquitetura, arte, geografia, cerâmica… Foi aí que decidi apresentar um projeto de fusão entre o estilo clássico inglês-americano e nossa cultura peruana.
Desenhei mais de 800 peças, das quais apenas 7 chegaram a ser fabricadas. Mas essas 7 foram suficientes para me levarem até uma das maiores feiras de móveis do mundo. Foi o início de algo muito maior.
2. Sua participação na Feira Internacional de Móveis em High Point, EUA, marcou um ponto de virada em sua carreira. Como foi representar essa herança cultural peruana num contexto internacional tão competitivo? O que você levou consigo e o que trouxe de volta?
Cada projeto e cada sonho realizado traz consigo uma coleção de histórias e experiências de vida. Guardo tudo com carinho, fazem parte da minha essência e identidade.
Participar dessa feira me fez sentir ainda mais orgulho do meu país, me aprofundar nas nossas raízes e reconhecer o valor da nossa cultura. Perceber que ela é tão importante quanto qualquer outra cultura antiga que estudei na universidade ou nas escolas de design. Isso foi transformador.

3. Seu trabalho atual com a Spazio e Stile envolve um diálogo entre a tradição italiana e a identidade peruana. Como você enxerga essa relação entre o luxo europeu e a alma latino-americana nos projetos que desenvolve?
A Spazio e Stile não é apenas uma empresa que representa marcas famosas, nós introduzimos o Made in Italy no mercado peruano com um olhar de reverência. Para mim, design é arte. E a arte tem suas raízes na Itália.
Ter uma peça italiana em casa é como possuir uma obra de arte: os materiais, a construção, a tecnologia e o intercâmbio cultural elevam essa experiência muito além da estética. Tudo começa na oficina do avô italiano e evolui com a imponência das grandes fábricas.
Nossos projetos são experiências de 360 graus, verdadeiras encenações à la Feira de Milão. Pensamos em cada detalhe: desde uma pequena mesinha até salas, dormitórios, quartos infantis, luminárias, closets e, claro, uma cozinha italiana de tirar o fôlego. Nada escapa ao nosso olhar.
4. Você menciona um cuidado extremo com materiais preciosos, madeiras raras, metais nobres, vidros e pedras. Para você, o que esses elementos comunicam além da estética? Existe um significado mais profundo por trás dessas escolhas?
Sem dúvida. Nossos materiais são inspirados no design italiano e comunicam muito mais do que beleza: falam de paixão familiar, do gosto refinado italiano, da funcionalidade e da tecnologia de ponta.
Representamos mais de 10 marcas de prestígio, entre elas a Cattelan, uma marca de luxo fundada em 1979 que permanece entre as mais renomadas. Suas criações utilizam madeiras como o Nogueira Canaletto, o Carvalho defumado, a Masterwood… Além de vidros, cerâmicas que imitam mármore, metais esmaltados, aços, tecidos, peles e ecopeles que enriquecem cada peça.
E as cozinhas da Arredo3, que tradição! São modulares, altamente personalizáveis, pensadas para se adaptar às necessidades de cada pessoa. Funcionais, elegantes, feitas sob medida para uma vida com arte.

Fiera Milano Rho e Fiera Milano City
5. Como é acompanhar, ano após ano, as novas propostas apresentadas na Feira de Milão? Que impacto essa renovação constante tem no seu processo criativo e nas suas decisões?
Importamos o que há de mais recente da Feira de Milão, que, como sabemos, é a mais importante da Itália e uma das principais da União Europeia. Ela existe desde 1906, quando foi inaugurado o Túnel do Simplon. Hoje, acontece em dois complexos: a Fiera Milano City e a Fiera Milano Rho, esta última a mais importante.
Antes de viajar, faço uma pesquisa profunda, listo os expositores, planejo meu trajeto… mas não é só sobre ir à feira: é preciso visitar as fábricas, tocar nos materiais, conversar com os mestres artesãos.
Esse contato me nutre, me inspira, me cultiva. É um processo que me transforma como criadora. Registro tudo, visual e manualmente, e essas impressões ficam impregnadas em mim.
6. Como mulher latina em um cenário internacional sofisticado, como você sente que sua identidade influencia seu olhar como designer? Existem desafios e forças que emergem dessa posição?
Claro que sim. Sempre é um desafio preparar-se para um novo projeto e mostrar o melhor de si. Mas acredito que o designer deve estar em constante movimento: ler, viajar, estudar, experimentar. Estar sempre atento ao bom design.
É preciso muito estudo e preparo também nos negócios, não basta ter bom gosto e paixão. Um representante de uma grande marca deve dominar códigos, línguas, saberes. Precisa se posicionar com cultura, ética e excelência.

7. Na sua trajetória, o design parece ser mais que profissão: é um gesto de escuta, de tradução de desejos e criação de atmosferas para a vida. Para você, o que significa “conforto” num mundo cada vez mais acelerado e visualmente saturado?
O design de interiores é um estilo de vida que ultrapassou a estética e a funcionalidade. Viver com estilo é um direito, e melhora nossa qualidade de vida.
Está comprovado psicologicamente: os espaços falam sobre nós, sobre nossa essência, nossas inquietações, nosso amor-próprio. Arte e design italiano são, para mim, expressões de experiências de vida.
8. Se você pudesse deixar uma mensagem para jovens criadores latino-americanos que sonham com o cenário internacional, qual seria o conselho que nasce da sua vivência e paixão pelo design?
Transmito a eles uma força de transformação para suas comunidades, países e regiões. Que se tornem líderes com seus projetos. Que tenham coragem de se empoderar e jamais desistam de seus sonhos.
Que desenvolvam um pensamento crítico, reflexivo, criativo. Que avancem não só no design, mas em todos os sonhos que cultivam. Que se conectem com instituições que valorizem suas ideias. E que contribuam, sempre.


Ao encerrar esta conversa com Mariluz Gallegos Zumaeta, o que permanece é a clareza de uma trajetória guiada por propósito, e respeito pela cultura. Fica evidente que, para ela, o verdadeiro luxo está na escolha criteriosa, na presença de materiais com história e na harmonia entre tradição e inovação. E talvez seja justamente isso que torne seu trabalho tão relevante: ele não se prende a tendências, ele resiste ao tempo.
Saiba mais sobre Mariluz:
Instagram: @mariluzgallegoszumaeta
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