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PASSAPORTE PARA A IMORTALIDADE - FRANZ KLINE


A Arte é o espelho da nossa alma. Dorian Gray e Fausto retratam sonhos: beleza, prazer, sabedoria... Oscar Wilde e Goethe souberam captar nosso íntimo, retratar suas épocas e entraram para a História. Esse é o poder da folha, da partitura e da tela em branco. Elas não esperam apenas mais um texto, mais uma canção, mais um quadro. Diante delas, um inglês escreveu “Ser ou não ser”. Um alemão combinou quatro notas mágicas em sua 5ª. Sinfonia. E um italiano pintou um sorriso enigmático. Passaram-se os séculos. E Shakespeare, Beethoven e da Vinci seguem vivos e reverenciados. Nenhum deles planejou isso. Mas ao traduzirem suas almas em suas obras, conquistaram um passaporte para a imortalidade. Quando essa entrega acontece, o observador é conquistado. E aplaude um estilo, que buscará avidamente no próximo quadro. Até criar uma intimidade que lhe permita em segundos relacionar a obra ao autor.

Vamos conversar sobre alguns artistas e seus estilos inconfundíveis.

Hoje conosco, Franz Kline.


Na tela branca os vigorosos traços negros cortam o espaço, delimitam silêncios e nos atingem com violência. Implícita, uma feroz agressividade, poucas vezes vista no universo artístico. Ainda assim, fascinante. O que se sabe sobre essas imagens atordoantes?

Conhecer a vida do artista, seus altos e baixos, enriquece o prazer da apreciação de sua obra. Franz Kline (em Português pronuncia-se Kláine) é um dos expoentes do Expressionismo Abstrato. Americano, nasceu no interior da Pensilvânia em 1910. Quando estava com 7 anos, seu pai se suicidou. Sua mãe o deixou numa escola para órfãos e se casou novamente. Na vida adulta, sua esposa teve de ser internada várias vezes por problemas mentais. Enquanto isso, o mundo ardia na Segunda Guerra Mundial. Difícil conceber que toda essa realidade pudesse estar ausente de sua obra.

O começo de carreira desse ex-boxeador foi Figurativo, com total domínio da técnica e uma grande admiração por Rembrandt. Nos anos 50, fez parte de um grupo de artistas denominado “Escola de Nova York” e aos poucos abraçou o Abstrato.

Ele sempre preparava vários desenhos antes de iniciar o trabalho com os pincéis.

A imagem do pincel passeando delicadamente pela tela dá lugar a movimentos que não eram só da mão ou mesmo do braço. Em algumas das pinceladas, o corpo todo se movia. Kline usava tinta comum e pincéis de pintar paredes. Alguns anos antes de sua morte em 1962, ele reintroduziu alguma cor a seu padrão P&B. É interessante notar que essa inclusão de modo algum suavizou sua obra.

Vale lembrar que nessa época se discutia se a interpretação da imagem era necessária ou mesmo possível em se tratando de arte abstrata.

No Expressionismo Abstrato, os artistas relacionavam suas obras a emoções, a impressões pessoais. Uma vez mais, Franz Kline nada contra a corrente. Ele encorajava o observador a se concentrar apenas nas pinceladas, na composição, sem buscar significados mais profundos. Por isso mesmo, ele resistia a dar nomes a seus quadros. Irônico que, contra sua sugestão, o público e a crítica mergulharam em suas imagens e nelas enxergaram a Pensilvânia rural, a caligrafia japonesa, o dinamismo da Nova York dos anos 50, suas estruturas, seu Jazz e seu ritmo.

Sabendo de sua vida sofrida, fica a questão: Kline não queria discutir significados para não abrir velhas feridas que suas imagens gritam para nós. Talvez a negação de uma agressividade latente. Uma coisa é certa: sua alma rasgada está presente em cada pincelada. E essa sinceridade é captada pelo público. Quando isso acontece, o observador vê retratadas suas próprias emoções, sua própria vida e seus momentos.

Franz Kline é a própria definição do conceito de “Identidade Artística”. E seus traços podem ser tão simples quanto as quatro notas iniciais da 5ª. Sinfonia de Beethoven. Mas a genialidade está justamente na capacidade de transmitir tanto com tão pouco.

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