Entrevista | Arte como abrigo: o renascer de Rossana Covarrubias
- Marisa Melo
- há 5 dias
- 7 min de leitura
O trabalho da UP Time Art Gallery é inspirar e fascinar através da Arte. Nossos artistas apresentam trabalhos que retratam nossas emoções, nossas causas, nossas vidas. O público sempre quer conhecer o artista por trás da obra. Quem é, como pensa? Que história de vida levou a esse trabalho?
Hoje conversamos com Rossana Covarrubias.

Algumas histórias não se contam apenas com palavras, elas se revelam nos gestos, nas escolhas e nas pausas. Rossana Covarrubias é uma dessas presenças que marcam. Nascida no Chile e radicada no Brasil, ela carrega em si o silêncio da observação e a força de quem nunca deixou de criar, mesmo quando o mundo pedia pausa. Mais do que artista, é uma mulher que encontra na matéria, seja argila, tinta, papel ou resina, uma forma de respirar e de revelar o invisível. Nesta entrevista, Rossana nos convida a conhecer seu percurso com honestidade e coragem. Compartilha memórias, afetos, e o momento em que a arte deixou de ser apenas sonho para tornar-se abrigo, caminho e recomeço. Um relato que emociona, não por querer impressionar, mas por dizer o que é verdadeiro.
1 – Rossana, você é uma artista autodidata. Que momentos marcaram o início da sua caminhada criativa? Em que instante percebeu que a arte seria mais que expressão, seria destino?
Meu amor pela arte nasceu cedo, ainda menina. Sempre amei desenhar, pintar, entalhar madeira, moldar o barro com as mãos, criar era meu jeito de respirar. Mas a vida me chamou para outras urgências, e aos 14 anos precisei começar a trabalhar para ajudar minha mãe. Mesmo assim, o desejo de criar nunca se apagou. Anos depois, fiz um curso técnico no SENAC, como desenhista de propaganda e publicidade. A prova exigia saber desenhar, e isso já morava em mim. Passei direto. Sempre que pude, dei um jeito de manter vivo esse dom que Deus me deu e esse amor pela arte que herdei da minha avó, um legado feito de afeto.
2 - A infância e o cotidiano atravessam suas obras. Que memórias da sua vida no Chile ainda reverberam nas cores, formas e temas que você escolhe hoje?
Minha avó materna era artesã, e sua linguagem era a argila. Ela sentava todos os netos ao redor da mesa, colocava uma bola de barro nas mãos de cada um e nos deixava criar, como se brincar fosse também um gesto sagrado. Sempre dizia: “Esta é a herança que deixo para vocês, o amor pela arte”. Guardei isso tão fundo em mim que sinto como se tivesse acolhido esse legado por inteiro.
Tivemos uma infância simples, sem luxo algum, às vezes com faltas, mas nunca sem afeto. O carinho, a alegria e o encantamento da minha avó pela criação ficaram marcados em cada um de nós. Ela cuidava de mim e dos meus primos enquanto minha mãe, enfermeira, se revezava entre plantões. Talvez por isso, por essa mistura de ausência e presença, amor e barro, eu tenha buscado a arte por todos os caminhos possíveis: vídeos, revistas, o que estivesse ao meu alcance. Sempre dentro do que podia, mas nunca longe do que sentia.
3 – Sua arte transita entre pintura, fotografia, cinegrafia e grafismos. Como você decide qual linguagem usar em cada obra? A técnica nasce com a ideia ou é a ideia que se molda à técnica?
Gosto de transitar entre técnicas, de experimentar caminhos diferentes em cada obra. Amo fotografia e uso o olhar fotográfico como ponto de partida para o desenho, são os ângulos que dão forma à minha criação. A natureza é meu lugar de fascínio constante. Sempre que saio, observo as árvores, as flores, as nuvens, e deixo meu olhar viajar nas formas que elas sugerem.
Tudo começa com uma ideia. Depois, mergulho na busca por imagens, até encontrar aquela com o enquadramento exato que imaginei. A partir daí, vem o desenho, a pintura, e enquanto a obra vai surgindo, escolho as técnicas que melhor traduzem o que quero dizer. Cada processo é único, uma conversa entre intuição, pesquisa e amor pelo detalhe.
4 – Suas obras são profundamente simbólicas. Há algum símbolo ou elemento que aparece com frequência e que represente algo muito íntimo para você?
A criação, o Criador. Se eu tocar, ainda que em um fio, 1% da perfeição contida na criação do mundo, isso já me basta. Me emociona profundamente, me deixa em estado de euforia e felicidade. É ali que me realizo, no gesto de aprender, no prazer de pesquisar, no encanto por descobrir novos materiais, novas técnicas, novas ideias que chegam sem aviso, ou no refinamento silencioso daquilo que já venho cultivando. Por isso, meu símbolo é ele, O Criador. É a ele que dedico cada tentativa, cada obra, cada caminho que percorro com as mãos e com a alma.
5 – Viver com a dor próxima, como no caso da sua mãe com Alzheimer e de seu filho com Esclerose Múltipla, exige resiliência. Como esses desafios transformaram sua relação com a arte, e com o tempo?
Houve um tempo em que a angústia e a depressão apagaram o amor que sempre tive pela arte. Ouvi tantas vezes que “arte não enche barriga” que comecei a acreditar que seria um luxo me dedicar àquilo que fazia meu coração pulsar. Era mãe de dois filhos, minha mãe precisava de mim, e a vida me cobrava urgência.
Foi na pandemia, quando tudo ao redor silenciou, que algo dentro de mim despertou. Em meio ao caos, minha mãe com Alzheimer, um filho jovem diagnosticado com Esclerose Múltipla, o outro atravessando a adolescência, e eu, desempregada, veio o improvável: a lembrança do dom que Deus me deu. Era como se Ele dissesse, com firmeza e ternura, que aquele era o tempo certo. Que a arte, guardada há tanto, enfim podia respirar. Foi ali, entre a dor e a pausa, que reencontrei meu caminho.
6 – Acreditar na arte como refúgio e também como força terapêutica é algo que transparece na sua trajetória. Em algum momento, alguma obra sua ajudou você a entender algo que só o silêncio da criação poderia revelar?
Quando percebi que poderia, enfim, viver o amor pela arte, ela se transformou. Primeiro, em refúgio. Depois, em cura. A cada desenho, pintura ou textura, eu me desligava das dores, da ansiedade, dos medos. Não era só sobre pintar um quadro, mas sobre criar um espaço onde o espectador pudesse entrar, onde a imagem transbordasse da tela. Cada mergulho criativo me devolvia à realidade mais forte, mais serena, com olhos capazes de ver o que antes parecia sem saída.
Minhas telas carregam mensagens. São espelhos do instante em que nasceram. Mas há três que me representam de maneira mais profunda.
A primeira se chama “VIDA”, uma homenagem às três mulheres que moldaram quem sou: minha avó Rosa, minha mãe Rosa e eu, Rossana, as três rosas, unidas no coração de uma árvore.

A segunda é a “Árvore da Vida”, um retrato da existência. Crescemos como ela: com o tronco que se fortalece com os anos e os galhos finos e dourados, que são nossas escolhas. Tão frágeis que, se não forem cuidadas, se rompem com o sopro de um descuido. Que tenhamos sabedoria para fazer escolhas que nos mantenham inteiros, que nos permitam completar o ciclo: vir da terra, crescer, florescer, e no tempo de Deus, voltar à origem.

E a terceira é “Ser Como Águia”. Voar alto, enxergar de longe e, acima de tudo, renascer sempre. Porque viver também é isso, aprender a recomeçar com coragem e com beleza.

7 - Seus trabalhos criam empatia imediata com o observador. O que você espera provocar em quem se depara com uma obra sua pela primeira vez?
O que desejo com minhas telas é mais do que mostrar uma imagem, é abrir um espaço de encontro. Que o observador capte a mensagem que cada obra carrega, que se permita viajar nas cores, nas formas, nas texturas. Que mergulhe como eu mergulho, com entrega e encantamento. E que, nesse mergulho, viva uma experiência única, íntima, como se a obra falasse algo que só ele pudesse ouvir.
8 – Você está sempre em processo de pesquisa e aprimoramento técnico. Que novos caminhos ou experimentações têm surgido nos seus processos mais recentes?
Como disse antes, aprender é uma paixão que me move. Estou sempre pesquisando, experimentando, buscando novos materiais e técnicas que possam enriquecer meu trabalho. Além das linhas, da cola quente, da tinta relevo, do gesso acrílico, da decoupage, das cascas, lascas de pinhas, palitos e tantas outras texturas da natureza, tenho explorado também a resina para detalhes, e estou encantada com as possibilidades. Mas sei que isso é só o começo. Ainda tenho muito a descobrir, e uma sede imensa de saber mais.
Querida Marisa, agradeço de coração pela oportunidade de contar um pouco mais sobre mim e minha trajetória. Com sua curadoria generosa e sua orientação tão cuidadosa, sinto que posso alçar voo, como a águia que tanto me inspira. Que possamos ir longe, juntas. Receba meu abraço forte, com todo carinho e respeito.
Quer conhecer mais? Explore o trabalho de Rossana em nossa galeria e veja como ela traduz suas emoções:
Instagram: @rossanacovarrubiastannus
Sobre a UP Time Art Gallery
Galeria de arte em São Paulo, que conecta artistas do Brasil e da Europa, promovendo o que há de mais expressivo na arte contemporânea. Fundada por Marisa Melo, a galeria rompe fronteiras e já alcançou mais de 30 países, combinando o melhor do mundo digital e físico.
Desde sua criação, a UP Time Art Gallery se destaca por sua abordagem inovadora, apresentando exposições imersivas em 3D e mostras presenciais ao redor do mundo, sempre com um time seleto de artistas. Mais do que um espaço expositivo, a galeria é um ponto de conexão global entre arte, cultura e público.
Nossos serviços:
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